Diário de Um Jardim

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domingo, agosto 22, 2004

A Metamorfose da Rosa - Parte 1

Link com a história "A Lagarta que Chorava Dia e Noite"
Pareceu-me que o tempo parara para a lagarta; a nada esboçava reação, num sono que não tinha fim.
Eu estava realmente preocupada (será que ela... ela tinha morrido de ressentimento, como acontece com a maioria das lagartas?!). Entristecí-me: não era isso que eu desejava a ela, apesar de todo transtorno que me causara.
Mas eu nada podia fazer; apenas esperar,
esperar, esperar...
O grande problema é que as rosas não foram feitas para esperar!
E eu olhava ao redor; não havia ninguém que pudesse efetivamente fazer algo por ela ou por mim. Não havia ninguém que sequer percebesse que algo estava errado. Naquele instante, o desespero inundou meu ser: percebi que estava sozinha.
Porém, são exatamente nestas situações que os milagres acontecem, como se todos os seres e elementos do universo se alinhassem , concorredo em favor de um único ser, de uma única vida. Pois foi exatamente naquele momento que avistei minha amiga borboleta, suas cores lindas se misturando às cores do jardim.
E algo em mim sorriu.

Era estranho como eu não conseguia conceber que aquela lagartinha podia vir a ser como minha amiga borboleta. Acho que, no fundo, eu não acreditava em mudanças drásticas.
É interessante como as borboletas têm o poder de sentir os sentimentos dos outros: ela sentiu a minha angústia. Minha tristeza:

- E então: vejo que agora você não está assim tão só... - foi a primeira coisa que me disse, olhando para a lagarta. - ...por que, então, a tristeza?
Eu estava disposta a lhe contar tudo, tudo mesmo. Mas antes, eu não podia me esquecer: a lagartinha precisava de ajuda!!!
- Querida borboleta, esta lagarta pregiçosa e pretenciosamente instalada em minhas folhas, ela...acho que está morrendo... - arregalei meus olhos, dado o meu estado de desespero, ainda que contido. - E o pior: é morte por ressentimento incontrolado!
A borboleta sorriu para mim, o que momentaneamente me fez pensar que meus sentimentos estavam sendo ridicularizados.
Ela se aproximou da lagarta; olhou bem: de um lado, de outro.
- Era o que eu pensava! Chegou a sua hora! - ela disse ao vento.
-Hora...h-h-hora da morte? - eu titubeei.
Eu tenho horror à morte.

A única inimiga que tenho... será que ela tinha vencido e destruído a lagarta?
- Hora de mudar. - foi o que a borboleta simplesmente disse.
"Hora de mudar..." Nunca antes, em minha curta existência, esta palavra (mudar!!!) me parecera tão assustadora.
- Então é assim que uma lagarta se torna borboleta?! - eu estava estupefata (e aliviada, confesso: ela estava viva!!!).
- Por que se espanta? Não se esqueça que a metamorfose que se faz notável na lagarta acontece-te todo o dia.






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