Diálogos monologados da Rosa acerca dos assuntos mais propositadamente sem propósitos (verdades difíceis de confrontar)
Eu gosto do que não existe. Talvez até mais do que quase tudo o que é.
Julgar-me-ás? Não sejas tolo: o que não existe é sempre mais conveniente, e pode, enfim, levar-nos àquele estado de felicidade que almejamos; afinal, na inexistência nada é tão complexo, ou tão previsível, para que esta vida imaginada não seja o tédio ou a loucura diária. Mas por que digo "diária"? Não se necessita destes subterfúgios temporais na dimensão inexistente, que pode até existir e desexistir, se for o caso.
E qual o caso?
Não sei, talvez amar infinitamente (tens licença para me chamares de tola agora: amor existe!).
Não te enganes! Meu amor é só meu, apêndice de mim, ou eu dele. E se é só meu e só se revela a mim, somente eu de fato afirmo a sua existência. Enfim: não é verdade universal, embora em mim seja o próprio universo. Assim sendo, se só eu sei que ele existe, será que não o inventei? Ninguém nunca saberá. Que importa? Quem poderá dizer que há, por exemplo, uma pessoa que não existe? E quem poderá dizer que não é exatamente esta pessoa a quem amarás ainda com toda a tua alma? Espero profundamente que a encontres.
Acabei por confundir-me. Não me dei por vencida, no entanto. A não-existência é contraditória, mas não menos que esta medíocre realidade que nos tentam acreditar. Esta, sim, é que não existe!
Não: melhor que exista! Porque volto a afirmar: eu gosto deveras do que não existe.